Produtores Criativos
- Lara Queiroz
- 7 de dez. de 2016
- 3 min de leitura
Comunidade Quilombola de Salinas - Nordestina - Bahia
Nós: Lara Queiroz e Eliane Araújo
***
Conheci esta comunidade, fincada no sertão nordestino através de um projeto de Valorização Cultural e Beneficiamento de Produtos aprovado em Novembro de 2016 junto ao Sesi.

Tudo começou no inicio do ano com muitas e muitas reuniões. Criar, refazer, recriar, alterar, acrescentar, retirar, recriar, propor, recriar...
O grave e inquietante dilema que sempre nos consome não parava de me interrogar:
Como propor algo para uma comunidade
que você nem conhece?
Projeto enfim finalizado com várias etapas. Apresentado.
Aprovado: Alegria Total !!!
PRIMEIRA ETAPA
Já estávamos em Outubro quando finalmente chegou o momento de conhecer as comunidades na cidade de Nordestina, sertão da Bahia.
Na primeira viagem, Eliane foi conhecer as comunidades, conhecer as produções, conversar com eles sobre valorização cultural, empoderá-los (no final do texto verá o que aconteceu). Foram dias de conversa, de escuta, dias fotografados lindamente pelo olhar de Germano Estácio (fotografo).
Do primeiro encontro Eliane trouxe relatos, fotos e histórias da comunidade. Depois de escutá-la e conhecê-los através dos retratos, entendi, com imensa alegria, que precisávamos modificar o projeto inicialmente proposto. O "beneficiamento" das peças produzidas pela comunidade não passava necessariamente por alterá-las, mas sim, VALORIZÁ-LAS ! Agregar valor social.
A própria comunidade nos mostrou um cenário que merecia um pouco mais de atenção para além do beneficiamento puramente estético das peças.

SEGUNDA ETAPA
Era Novembro chegou o momento da minha ida. Conversar com duas comunidades produtoras de artesanato sobre formas de beneficiamento de produtos artesanais.
Chegamos à comunidade de Salinas, bem cedo, o grupo ainda estava cuidando das suas labutas diárias. Aguardamos um pouco para que se reunissem. Um lugar que a primeira vista pareceu árido, com pessoas desconfiadas e resistentes a novas propostas, mas, bastou uma curta caminhada para entender que nem de longe a secura da terra invadia casas e pessoas.
Meu primeiro contato foi com Eduardo, uma criança de seis anos.
Ele surgiu enquanto fotografava uma amiga. A intenção era fazer a foto, incluindo um lindo Umbuzeiro (pé de Umbú). Enquanto tentava, Eduardo apareceu ao longe com seu celular, ouvindo música.

Aguardei ele se aproximar um pouco mais e comecei a puxar conversa. Ele me deu trela. Percebi que olhava admirado a máquina fotográfica doméstica que carregava (item quase desconhecido para os mais novos...rsrs). Pedi ajuda para fazer a tal foto, assim pude entregar nas mãos dele o “objeto do desejo” e expliquei como a “modelo” queria seu retrato. Assim que entreguei a máquina e ensinei que botão deveria apertar ele me disse: “Aqui não consegue não, tem que ir lá para trás, encostar lá naquele muro"
As crianças me surpreendem cada dia mais...Noção espacial fantástica! Perspectiva (método de representação muito utilizado no Renascimento, sistematizado pelo arquiteto Felippo Brunelleschi)...Arte...Leonardo da Vinci...Matemática... (???)
Outra pergunta começou a GRITAR na minha cabeça
COMO AS CRIANÇAS APRENDEM ?

Minha foto

Foto de Eduardo
Esta linda criança nos convidou para conhecer a sua comunidade, o seu fantástico mundo:

A casa onde mora com sua família: Mãe, Pai e irmãosinho

A casa nova (onde sorriu), ainda em construção

(Me perguntou: Quer tirar foto das galinhas?) Percebi que aquele lugar era um grande motivo de orgulho

E, finalmente nos mostrou seu tesouro dizendo: "Tira uma foto da minha bicicleta", abrindo delicadamente a porta que a protegia.
Foi assim que comecei a minha jornada.
Comecei a reunião dizendo que a produção do grupo me surpreendeu. Tinha pensado inicialmente em propor mudanças, mas havia desistido, não eram necessárias. As produções criadas com a palha de Licuri traduziam a vida, as dificuldades, o lugar que viviam. Era fácil identificar cada um deles nas peças, o que as tornavam únicas. Percebi que era fundamental mostrar as peças a novos mercados e acrescentar às peças uma marca forte que contasse a história da comunidade, que fosse capaz de mostrar junto com a peça, seus produtores.

Foto: Ludmila Moraes












































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